Isolados vs Multiarticulares: O que é Melhor para Hipertrofia?

A resposta da ciência pode te surpreender tanto quanto me surpreendeu.

por Rafa Lund7 min de leitura
Isolados vs Multiarticulares: O que é Melhor para Hipertrofia?
Sumario

Introdução

Semana passada rolou um debate acalorado na LUND Trainers sobre um tema que parecia simples: multiarticulares versus isolados para hipertrofia. E eu, com toda a convicção de quem treina há anos e estuda o assunto, defendi minha posição de sempre: multiarticulares são superiores e devem ser a base de qualquer programa sério de hipertrofia. Isolados? Servem para aumentar volume específico em alguma região ou trabalhar movimentos que os compostos não cobrem bem, tipo flexão de joelho. Ponto final.

Só que depois daquele debate, fiquei com aquela sensação incômoda de quem precisa provar seu ponto. Fui buscar na literatura científica os estudos que comprovariam o que eu sempre acreditei. Afinal, faz sentido, não faz? Um agachamento profundo treina quadríceps, glúteo e adutores de uma vez. Para conseguir isso com isolados você precisaria fazer três exercícios diferentes, gastando muito mais tempo. A lógica é cristalina.

Mas aí veio o choque. Quanto mais eu mergulhava nos estudos comparando diretamente compostos versus isolados, mais eu percebia que a coisa não era tão preto no branco quanto eu pensava. A ciência simplesmente não apoia a ideia de que multiarticulares são superiores para hipertrofia. E isso mexeu comigo, porque admitir que você estava errado sobre algo que defendeu por anos não é fácil.

A Teoria Que Favorece os Multiarticulares

Do ponto de vista teórico, existem argumentos sólidos a favor dos compostos. Primeiro, eles permitem usar cargas absolutas muito maiores. Você consegue agachar 100kg, mas dificilmente vai fazer cadeira extensora com esse peso. Cargas maiores significam mais tensão mecânica nas fibras musculares, que é um dos principais drivers de hipertrofia.

Segundo, multiarticulares recrutam mais unidades motoras simultaneamente e geram maior resposta hormonal aguda devido ao estresse sistêmico. Terceiro, eles treinam músculos em padrões de movimento integrados, o que teoricamente deveria otimizar o desenvolvimento muscular de forma mais completa e funcional.

O Contraponto Que Favorece os Isolados

Mas existe o outro lado da moeda. Teoricamente, movimentos compostos apresentam mais gargalos potenciais para atingir a verdadeira falha muscular do que exercícios isolados. Quando se trata de atingir um músculo da melhor forma possível, isso é uma desvantagem. Simplesmente há mais grupos musculares envolvidos, e isso significa mais chances de algo mais falhar primeiro.

Num agachamento, suas costas ou seu core podem falhar antes dos seus quadríceps estarem realmente no limite. Num supino, o tríceps pode desistir antes do peitoral estar completamente esgotado. Na ausência de uma forma precisa de avaliar quão perto um músculo específico chega da falha, isso poderia tornar os exercícios compostos ligeiramente menos efetivos para hipertrofia, tudo o mais sendo igual.

Então qual teoria está certa? A pesquisa realmente apoia uma sobre a outra? Estudos descobriram que movimentos compostos são melhores ou piores que movimentos isolados para crescimento muscular?

O Que Dizem os Estudos

Gentil et al (2015) compararam pulldowns com pegada aberta e rosca direta com halteres. Apesar de ser uma comparação composto versus isolado, ambos resultaram em hipertrofia similar dos flexores do cotovelo, embora apenas um ponto tenha sido medido.

Mannarino et al compararam remadas com halteres em pegada supinada e rosca direta com halteres. Dessa vez, as roscas produziram aproximadamente o dobro de crescimento nos flexores do cotovelo comparado às remadas.

Brandão et al compararam o supino e o tríceps testa. O tríceps testa levou a mais crescimento nas cabeças longa e medial do tríceps, enquanto o supino favoreceu a cabeça lateral.

Burke et al compararam o leg press com a cadeira extensora. O leg press produziu mais crescimento nos vastos, enquanto a cadeira extensora favoreceu o reto femoral.

Dois estudos adicionais compararam o agachamento e a cadeira extensora. O primeiro, por Zabaleta-Korta et al, encontrou crescimento similar entre os dois tanto para o reto femoral quanto para o vasto lateral. O outro, por Earp et al, encontrou ligeiramente mais crescimento geral a partir da cadeira extensora.

A Conclusão Que Eu Não Esperava

Considerando tudo em conjunto, não há uma tendência consistente sugerindo que exercícios compostos sejam melhores ou piores que exercícios isolados. Se algo, eles parecem ser similarmente efetivos na maioria das vezes.

Apoiando isso, temos uma meta-análise de Avery et al. A revisão deles de sete estudos não encontrou diferença estatisticamente significativa nos resultados de hipertrofia entre movimentos monoarticulares e multiarticulares. Há uma ressalva, no entanto: cada um desses estudos compara apenas um exercício isolado com um composto. É muito possível que outros pareamentos produzissem resultados diferentes.

Então, Onde Isso Nos Deixa?

Exercícios compostos não são inerentemente melhores para hipertrofia. Essa é a verdade que a ciência mostra. No entanto, eles oferecem vantagens práticas importantes que vão além do crescimento muscular puro.

A primeira já mencionei: eficiência de tempo. Um agachamento bem executado em grande amplitude hipertrofia quadríceps, glúteo e adutores simultaneamente. Para conseguir esse mesmo estímulo total com isolados, você precisaria fazer três exercícios diferentes, gastando muito mais tempo.

A segunda é a transferência para a vida real e para o desempenho. Os movimentos que fazemos no dia a dia são geralmente compostos e de cadeia fechada. Agachar para pegar algo do chão, empurrar um objeto pesado, puxar algo em sua direção. Treinar esses padrões de movimento não só constrói músculo, mas também constrói funcionalidade.

Mesmo assim, falando puramente em hipertrofia, compostos e isolados parecem amplamente intercambiáveis para crescimento. A diferença está em quantos músculos você treina por unidade de tempo e em como isso se traduz para o mundo fora da academia.

Dito isso, nem todos os movimentos compostos ou isolados são criados iguais. No agachamento, por exemplo, não sabemos ao certo qual grupo muscular será o fator limitante - pode ser o quadríceps, o glúteo, os adutores, ou até mesmo o core. Num deadlift, sua pegada e força de antebraço podem parar você muito antes da cadeia posterior e glúteo estarem realmente no limite, o que não aconteceria numa cadeira flexora. Da mesma forma, num supino, o tríceps frequentemente desiste antes do peitoral estar completamente esgotado. Esse é justamente o ponto teórico a favor dos isolados: eles garantem que o músculo alvo seja o fator limitante, não outro grupo muscular mais fraco na cadeia.

Admitir que estava errado sobre isso não diminui em nada a importância dos multiarticulares nos nossos programas. Apenas me fez entender melhor o porquê de usá-los. Não porque sejam magicamente superiores para hipertrofia, mas porque são estrategicamente mais inteligentes para quem tem tempo limitado e quer maximizar não só músculo, mas também função. E essa é uma razão muito mais honesta e cientificamente sólida do que simplesmente repetir dogmas sem questionar.


Como o TreinoAI Aplica Esse Conhecimento

É exatamente esse tipo de evidência científica que alimenta a inteligência artificial do TreinoAI. Nossa IA não trabalha com dogmas ou regras ultrapassadas sobre superioridade de um tipo de exercício sobre outro. Em vez disso, ela considera:

  • O contexto individual de cada pessoa: tempo disponível, equipamento, nível de treinamento e objetivos específicos
  • A eficiência temporal: priorizando multiarticulares quando há restrição de tempo, sem sacrificar resultados
  • O equilíbrio estratégico: combinando compostos e isolados de forma inteligente para maximizar hipertrofia enquanto gerencia fadiga e tempo de treino
  • A funcionalidade: garantindo que o programa não só constrói músculo, mas também melhora performance em movimentos do dia a dia

Quando você recebe uma prescrição do TreinoAI, pode ter certeza de que por trás daquela seleção de exercícios existe uma análise baseada em dezenas de estudos científicos como os que citamos aqui. A IA não está simplesmente repetindo fórmulas prontas - ela está aplicando o melhor da ciência atual do treinamento de forma personalizada para você.

Porque no final das contas, o melhor treino não é aquele que segue dogmas cegamente, mas aquele que combina evidência científica com suas necessidades e realidade individual. E é exatamente isso que nossa inteligência artificial foi desenvolvida para fazer.


Rafa Lund
Mestre em Ciências do Desporto | Fundador Grupo LUND